[IHAC no Congresso da UFBA] O que pensam estudantes de um curso universitário da área da saúde sobre a massagem

Participantes: Vinicius Pereira de Carvalho, Maria Thereza Ávila Dantas Coelho e Maria Beatriz Barreto do Carmo

As práticas integrativas e complementares são um grupo de práticas de saúde que envolvem racionalidades em saúde e recursos terapêuticos integrais e vitalistas. Essas práticas foram introduzidas oficialmente no Sistema Único de Saúde (SUS) por meio da criação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). Algumas práticas terapêuticas de massagem integram o rol da PNPIC, como é o caso da shantala e das massagens que estão inseridas no sistema terapêutico da medicina tradicional chinesa, ayurveda, antroposofia e naturopatia/naturologia. Logo, a massagem é uma prática adotada no sistema de saúde brasileiro, o que faz com que seja necessário que existam trabalhadores da saúde sensibilizados ou até mesmo praticantes dessa terapia nos serviços. Desse modo, o objetivo desta pesquisa foi compreender o que discentes de um curso da área da saúde pensam sobre a massagem. Trata-se de um estudo descritivo e exploratório, com abordagem qualitativa, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da UFBA. Os participantes foram 34 estudantes de um curso interdisciplinar em saúde da Universidade Federal da Bahia (UFBA), primeiro ciclo de um regime de formação inovador adotado pela Universidade. A coleta de dados foi realizada no primeiro semestre de 2019, por meio de entrevistas semiestruturadas, mediante um roteiro de perguntas que abordava os conhecimentos, usos e significados de práticas integrativas e complementares. Uma dessas perguntas: foi “Você conhece a massagem?”. As falas dos estudantes sobre a massagem foram analisadas através da análise de conteúdo de Bardin. Por consequência, após a pré-leitura do corpus foi feita a delimitação das unidades de registro e, a partir de então, foram delimitados os temas utilizados para a interpretação das respostas. Todos os discentes responderam conhecer a massagem, tendo aparecido em suas falas os temas “saber popular”, “saber profissional”, “relaxamento” e “terapêutica”. Nesse sentido, os estudantes acreditam existir duas “modalidades” de massagem, uma proveniente do saber popular e outra que é conduzida a partir de saberes profissionais. Entretanto, ambos os tipos de massagem oferecem relaxamento e tratamento de dores aos seus usuários, o que fez com que essa prática fosse denominada como relaxante e terapêutica pelos discentes. A massagem constituída no saber popular é formada por meio de práticas de cuidado coletivo e individual não sistematizadas, sendo oferecida e incentivada na socialização entre os pares e na construção de afetos familiares. Já a massagem transmitida a partir da presença de um profissional capacitado em manejá-la abarca técnicas organizadas, tendo sido citada entre os estudantes como parte da medicina tradicional chinesa e da massoterapia. Nesse caso, a ideia de profissional não é antagônica à de tradição, uma vez que práticas tradicionais têm sido estudadas em meios que se estendem para fora das fronteiras dos territórios de onde são oriundas. Todavia, alguns discentes que apontaram a massagem enquanto proveniente do saber popular declararam que ela não está no grupo de práticas integrativas da PNPIC, o que pode demonstrar que as técnicas de massagem que conhecem não são reconhecidas por essa Política. Isso corrobora com estudos que apontam para a exclusão de práticas tradicionais brasileiras na PNPIC frente a uma valorização de saberes euro-asiáticos. Ademais, isso pode apontar para um desconhecimento da oferta de oficinas de massagem e automassagem entre os procedimentos do SUS, retrato da falta de acesso às mesmas. Assim, pode existir entre os usuários a demanda por certos tipos de terapia comuns à sua cultura, no SUS, visto que acreditam que provocam resultados positivos quando utilizadas. Tais práticas integram o cuidado cotidiano adotado culturalmente entre as pessoas, abrangendo suas representações de saúde-doença, e sua incorporação potencializa a ação do sistema de saúde.

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