NuCuS Conecta populariza conceitos e discussões sobre gêneros e sexualidades
Web série traz 06 entrevistas com coordenadores das linhas de pesquisa do NuCuS – Núcleo de Pesquisa e Extensão em Culturas, Gêneros e Sexualidades da Universidade Federal da Bahia. Programas serão exibidos no canal de YouTube do Núcleo a partir de 05 de julho de 2021, sempre às 20h.
Existe ideologia de gênero? O que significa queer? Qual a diferença entre pessoas cisgêneras e transgêneras? O que é identidade de gênero? Como deve ser o ensino da sexualidade na escola? O que é sexualidade? Como acontecem pesquisas científicas no campo do gênero e da sexualidade? A partir de abril, pessoas de todo o Brasil e do mundo poderão ter resposta para algumas dessas perguntar a partir do NuCuS Conecta, iniciativa que conta com a participação de pesquisadores experientes das linhas de investigação do NuCuS – Núcleo de Pesquisa e Extensão em Culturas, Gêneros e Sexualidades, um dos grupos pioneiros desses estudos no Brasil, vinculado à Universidade Federal da Bahia.
O NuCuS Conecta é uma web série com seis entrevistas no canal do YouTube do Núcleo (https://www.youtube.com/TVNUCUSCulturasGeneroseSexualidades) e vai colaborar para que pessoas compreendam discussões sobre gênero, sexualidade e raça e a relação desses temas com diversas esferas da vida como feminismo, educação, cidades e artes. Os programas, que estão em produção, trazem entrevistas com pesquisadores do Núcleo e estarão disponíveis a partir de 05 de julho de 2021. O NuCuS Conecta tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e do Centro de Culturas Populares e Identitárias – CCPI (Programa Aldir Blanc Bahia), via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.
Para marcar o lançamento do projeto, uma live acontecerá no dia 05 de julho de 2021, às 19h, com alguns participantes do projeto no canal do YouTube da TV NuCuS, onde as seis entrevistas irão ao ar nesta mesma semana, sempre às 20h.
A falta de materiais didáticos e de fácil acesso sobre os temas da diversidade sexual e de gênero tanto para escolas quanto para o grande público foi a principal motivação para a construção do NuCuS Conecta. A educação é o principal vetor para a formação cidadã e socialização de crianças, adolescentes e jovens. “Percebemos que a escola não está preparada para trabalhar com a diferença, em especial quando falamos das questões de gênero e sexualidades. Essa dificuldade traz sérias consequências a todos/as os/as estudantes, prejudicando seu aprendizado e bem-estar. E, também, impede que a escola desempenhe adequadamente uma de suas mais importantes funções sociais nos dias de hoje: contribuir para o fortalecimento na sociedade de uma cultura que saiba respeitar e valorizar a diversidade”, explica David Souza, coordenador do projeto.
Em 2009, o Ministério da Educação encomendou uma pesquisa à FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, que chegou à conclusão de que as principais vítimas de bullying e discriminação na escola são pessoas LGBTQIA+, negras e pobres. “Se as instituições tivessem políticas públicas efetivas que contemplassem o acesso e a permanência de pessoas dissidentes de gênero e sexualidades, a evasão escolar seria menor”, completa David.
Por outro lado, há um crescimento de pesquisadores/as da área de gênero e sexualidades em vários lugares do mundo. Trata-se de um esforço de profissionais que trabalham em pesquisas muitas vezes sem apoio e investimento financeiros, mas que buscam promover reflexões no campo da educação e da cultura. Um exemplo desse movimento são educadores/as e também artistas e coletivos artísticos que buscam discutir sobre questões de gênero, sexualidade, raça, capacistimo, entre outras opressões.
Apesar disso, o discurso de ódio contra pessoas LGBTQIA+ tem crescido, em especial neste momento de pandemia. Além das violências físicas, também ocorrem as violências online. O número de ataques às lives, invasões de grupos e cursos virtuais são uma prova disso. A ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais afirma que apenas nos dois primeiros meses de 2020, o Brasil apresentou aumento de 90% no número de casos de assassinatos em relação ao mesmo período de 2019. Em 2019 foram 20 casos no mesmo período, enquanto em 2020, 38 notificações.
“É mais que urgente propor atividades de busquem diminuir a quantidade de assassinatos da população LGBTQIA+ e acreditamos que a educação e a cultura oferecem caminhos possíveis para sensibilizar e educar a população para o respeito às diferenças. O NuCuS tem promovido, ao longo dos últimos 13 anos, atividades que levem a sociedade a refletir sobre o respeito à diversidade, como veremos abaixo e o NuCuS Conecta é mais uma ação nessa direção”, explica David Souza. “Com essa web série queremos desmistificar os estudos de gênero e sexualidade no Brasil e mostrar que não é nenhum bicho de sete cabeças. Ao contrário, compreender esse campo é uma questão de direitos humanos, de respeito às diferenças, da construção de uma sociedade que respeita o próximo e luta pela equidade”, completa o coordenador do projeto.
NuCuS Conecta
As entrevistas abordam questões que contribuem no combate às opressões de gênero, sexualidade e suas interseccionalidades. Elas são instrumentos pedagógicos para subsidiar os debates sobre gênero, sexualidade, raça, educação, cidades e artes em escolas e cursos de aperfeiçoamento.
Os seis programas terão como temas “Artivismos das dissidências sexuais e de gênero no Brasil”, “Gênero e sexualidade na educação”, “Questões trans e Intersexo”, “Subjetividades e racialidades”, “Cidades e corpos dissidentes” e “Lesbianidades e interseccionalidades”. Os temas surgiram a partir de discussões levantadas dentro do próprio NuCuS e que possuem, na atualidade, relevância para a comunidade LGBTQIA+.
“A produção de conhecimento também consiste em uma forma de ativismo e política. Apesar de diferente do ativismo político mais conhecido, com o qual a academia precisa dialogar mais, a produção de conhecimento também pode e deve incidir politicamente para o respeito aos direitos humanos”, explica David Souza. “Os programas trazem a complexidade das discussões de gênero e sexualidade como uma outra possibilidade de reflexão e de maneira simples, para que todos possam compreender o que estamos falando e estudando”, completa o coordenador do projeto.
Os programas podem auxiliar professores, pesquisadores e pessoas comuns em discussões introdutórias sobre gênero e sexualidade em salas de aula e cursos de formação. Os vídeos também visibilizam pessoas que atuam contra (e também sofrem) violências institucionais, físicas e simbólicas por conta de suas identidades de gênero e sexualidades dissidentes. “O NuCuS Conecta também vai tornar conhecido as dinâmicas, os processos de atuação, assistência e projetos que o Núcleo realiza em mais de uma década de atuação, tanto em nível local como nacional”, defende.
Os programas
Episódio 1: Estudos trans, travestis e intersexo – com Fêrnande Santos – 05 de Julho de 2021 – 20h
A entrevista trata dos processos socioculturais vivenciados por pessoas trans, travestis, intersexo, incluindo identidades/expressões de gênero não binárias e não ocidentais. Fêrnande Santos, 23 anos, prete, não-binárie e pansexual. Graduando do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades, é pesquisador integrante das linha do NuCuS, a LIF (Linha de Lesbianidades, Interseccionalidades e Feminismos), e a TTI (Linha de Estudos Trans, Travestis e Intersexo) onde atua como coordenadore. Artista e ativista das questões de raça, gênero e sexualidade, integra os coletivos TransUFBA, De Trans pra Frente, Motin e Fervu Profanu.
Episódio 2: Gêneros e sexualidades na educação – com Izaura Cruz – 06 de Julho de 2021 – 20h
O programa fala sobre as pesquisas e atividades de extensão a partir das relações entre a diversidade sexual e de gênero, seus atravessamentos de raça/etnia, classe social e geração, e o campo da educação. Izaura Santiago da Cruz é Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Pará. É especialista em Sexualidade Humana, pela UNESA-RJ, Mestre e Doutora em Ensino Filosofia e História das Ciências pela UFBA/UEFS. Atualmente é professora Adjunta da Faculdade de Educação e também atua como Coordenadora de Ações Afirmativas, Educação e Diversidade da Universidade Federal da Bahia. Pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher – NEIM/UFBA e do NuCuS. Atuou também como Coordenadora de Área e Coordenadora Institucional, na UFBA, do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID/CAPES). Realiza pesquisas nas áreas de Educação, Gênero e Sexualidades atuando principalmente nos seguintes temas: formação docente; gênero, ciência e educação; educação sexual; educação, diversidade, ações afirmativas.
Episódio 3: Lesbianidades, interseccionalidades e feminismos – com Sanara Rocha – 07 de julho de 2021 -20h
A entrevista mostra como as pesquisas acadêmicas e trabalhos de extensão têm como enfoque as lesbianidades e os estudos das racialidades, com vertentes político teóricas dos pensamentos lésbicos. Sanara Rocha é feminista negra e artista interdisciplinar com campo de atuação nacional e internacional. É mestre em cultura e sociedade pelo Programa Multidisciplinar de Pós-graduação em Cultura e Sociedade (IHAC/UFBA). Dedica-se ao desenvolvimento de duas pesquisas poéticas: “Narrativas Fósseis” e “Futurismo Amefricana” que se respaldam nos estudos de gênero e nas epistemes afro-futuristas para pensar forjar uma poética que parte da ideia de um afro-futurismo brasileiro. É ex-integrante do grupo NATA onde atuou como musicista. Atualmente integra a LIF do NuCuS e coordena a plataforma multidisciplinar Futurismos Ladino Amefricanas.
Episódio 4: Processos de subjetivação, raça, gêneros e sexualidades – com David Souza – 08 de julho de 2021 – 20h
O programa traz reflexões sobre processos de subjetivação com ênfase nas identificações raciais, sexuais e de gênero, com enfoque nas biopolíticas e governamentalidades da era neoliberal. David Souza é Mestre pelo Programa de Pós Graduação em Cultura e Sociedade na Universidade Federal da Bahia (UFBA), Bacharel em Humanidades pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), desenvolve pesquisa na área dos estudos de sexualidade, gênero, corpo e educação – com ênfase nos estudos queer e artivismo. Foi bolsista PIBIC/Fabesp (2011/2012), (2013/2014), bolsista PROEXT (2014/2015), bolsista PROAE (2016), bolsista CAPES (2018/2019), integra o NuCuS desde 2011 onde coordena a linha de pesquisa de Processos de subjetivação, raça, gêneros e sexualidades.
Episódio 5: Artes, gêneros e sexualidades – com Leandro Colling – 09 de julho de 2021 – 20h
O entrevistado analisa as relações entre as artes, em suas variadas linguagens, e as dissidências sexuais e de gênero. Leandro Colling é professor associado do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC) Professor Milton Santos, professor permanente do Programa Multidisciplinar de Pós-graduação em Cultura e Sociedade e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo, da Universidade Federal da Bahia, e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas e Sociais (PPGCHS), da Universidade Federal do Oeste da Bahia. É um dos criadores e integrante do NuCuS, organizou diversas publicações sobre o tema e é autor de livros como: “Que os outros sejam o normal: tensões entre movimento LGBT e ativismo queer” e “A vontade de expor – arte, gênero e sexualidade”, todos editados pela Editora da Universidade Federal da Bahia.
Episódio 6: Corpos, cidades e territorialidades dissidentes – com Eduardo Rocha – 10 de julho de 2021 – 20h
A entrevista demonstra como acontecem as investigações sobre corpos dissidentes nas cidades com questões de gênero, raça, sexualidade, meio ambiente, mobilidade, dentre outros assuntos. Eduardo Rocha é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Fortaleza (2004), tem mestrado em Urbanismo (PROURB_UFRJ – 2007) e doutorado em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU_UFBA – 2012). Durante o doutorado, realizou estágio na cidade de Paris, enquanto bolsista PDDE-CAPES, no Laboratoire Architecture/ Anthropologie, o qual é vinculado à École Nationale Superieure Architecture Paris La Vilette. Em 2015, ingressou em pesquisa de pós-doutorado junto ao grupo de pesquisa Laboratório Urbano do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia. Atualmente é professor adjunto do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal da Bahia, onde atua como pesquisador com ênfase em história e teoria da Arquitetura e Urbanismo e foco nos seguintes temas: apropriação do espaço, experiência urbana, produção de narrativas urbanas, corpo, sexualidades e cidade.
Sobre o NuCuS
O NuCuS – Núcleo de Pesquisa e Extensão em Culturas, Gêneros e Sexualidades se constituiu a partir de uma ampliação do grupo de pesquisa em Cultura e Sexualidade (CuS), criado em 2007, na Universidade de Federal da Bahia, por uma turma de estudantes de graduação em Comunicação, Letras e Ciências Sociais, junto ao Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT), liderados pelo professor Leandro Colling. Em 2018, o grupo se transformou em Núcleo, que atualmente possui seis linhas de pesquisa e congrega cerca de 80 pessoas pesquisadoras e/ou ativistas, com uma coordenação colegiada. O objetivo era, e ainda é, produzir pesquisas e atividades a partir e com os estudos queer e decoloniais. Os estudos queer são muito diversos entre si, mas, de modo geral, problematizam as visões essencialistas e biologizantes sobre as identidades de gênero e de sexualidade, adotando uma postura de rebeldia na luta pelo combate às opressões. Nesse sentido, essa perspectiva aponta como as normas conformam os nossos corpos em modelos normativos de comportamento e tenta desconstruir esses scripts por meio de ações mais radicais e autônomas. Já os estudos decoloniais nos permitem questionar como essas normas foram criadas a partir do processo de colonização pelo qual nosso país e nossas subjetividades foram construídas.
No campo dos grandes eventos, o Núcleo se destacou na realização de três encontros, dois deles internacionais. Em setembro de 2010, o Núcleo organizou o seminário Stonewall 40 + o que no Brasil?, que reuniu em Salvador cerca de 400 pessoas de diversos cantos do Brasil com o objetivo de debater as políticas LGBT nos últimos 40 anos no país. Dois anos depois, entre os dias 1 e 3 de agosto de 2012, o Núcleo sediou uma das edições do Congresso Internacional de Estudos sobre a Diversidade sexual e de Gênero da ABEH – Associação Brasileira de Estudos da Homocultura. Além da conferência de abertura do escritor e ativista Jack Halberstam e de sete mesas redondas, a programação contou com a apresentação de cerca de 430 trabalhos em sessões de comunicação e mesas coordenadas e 12 trabalhos na mostra artística, além do lançamento de 30 livros. 700 pessoas estiveram inscritas no evento, oriundas de 24 estados brasileiros e de alguns países da América Latina. Em 2015, entre 4 a 7 de setembro de 2015, o Núcleo promoveu o II Seminário Desfazendo Gênero, com o tema “Ativismos das dissidências sexuais e de gênero”. O evento contou com conferência da filósofa estadunidense Judith Butler e a participação de cerca de 1500 pessoas pesquisadoras e/ou ativistas do Brasil e do exterior. Nos quatro dias ocorreram seis mesas redondas, 71 simpósios temáticos, nos quais foram apresentados 759 trabalhos. Além disso, foram realizados 25 minicursos, 25 oficinas e exibidos 50 pôsteres. Performances, shows, teatro e o lançamento de 39 livros também estavam na programação. Em 2017, o Núcleo realizou a “Mostra Cus 10 anos”, que também foi contemplada com um edital da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. A mostra trouxe para Salvador nomes que discutem diversidade de gênero e sexualidade, entre eles a multi artista Linn da Quebrada. Em 2019, o Núcleo criou 42 episódios em seu podcast NuCuSPOD, veiculado no canal oficial do Núcleo no YouTube.
Em 2018, o Núcleo criou curso de Especialização em Gênero e Sexualidade na Educação, que foi construído a partir da linha de Gênero e sexualidade na educação. O curso foi oferecido para 225 professores/as da rede de ensino de quatro cidades do interior da Bahia (Esplanada, Lauro de Freitas, Teixeira de Freitas e Vitória da Conquista). O curso foi oferecido em parceria com a Universidade Federal da Bahia, Universidade Aberta do Brasil e a CAPES. Ao longo dos anos, os/as integrantes do Núcleo já publicaram dezenas de artigos e mais de vinte livros que contribuem para a democracia e o acesso ao conhecimento que respeita a diversidade de gênero e sexualidade. O NuCuS também atua em outras esferas, apostando em diversas ferramentas e instâncias políticas na luta por políticas de respeito às diferenças.