#Ocupação Fantasmagorias Dahomeanas: Haiti o Ayiti una charla serpenteante

23 de Novembro ocorreu uma Conversa Serpenteante com Cecilia Lisa Eliceche. Cecília é dançarina, ativista, pesquisadora da história, cultura e Vodun do Haiti e membro de Kosanba. Nesta Live ela compartilhou suas pesquisas e experiências no Haiti, suas vivências junto a sua família do Vodun e seu trabalho como membro de Kosanba. Essaconversa foi parte da programação online da ocupação Fantasmagorias Dahomeanas, com realização do laboratório de pesquisa Balaio Fantasma e teve a mediação da pesquisadora Beatriz Gonzales.

Sobre a #Ocupação Fantasmagorias Dahomeanas:

O Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa em Artes Balaio Fantasma realizou de 17 de novembro a 10 de dezembro (2022) o projeto de ocupação e exposição “Fantasmagorias Dahomeanas”, que teve espaço na Casa do Benin.

Fantasmagorias Dahomeanas é o projeto de ocupação da Casa do Benin, em Salvador, pelo Laboratório interdisciplinar de pesquisa em artes Balaio Fantasma, coordenado pela artista e pesquisadora Paola Barreto desde 2017 na UFBA. Trabalhando entre saberes e práticas produzidos na universidade e em espaços não formais de educação, nos propomos a escavar memórias, no contato com territórios e comunidades baseados em Salvador, para fazer aparecer, através de ações artísticas, aspectos esquecidos, apagados ou invisibilizados de nossas histórias e sociedades.

A partir de um convite para desvendar, junto ao multiartista beninense James Codjo Awononnow, os tesouros guardados no acervo desta Casa, nos lançamos a uma série de desafios. O primeiro deles, enfrentar o que nos assombra nas armadilhas dos arquivos coloniais, a fim de dialogar para além das fronteiras, geográficas e imaginárias. É assim que nos voltamos para o país que hoje denominamos República do Benin, parte de um território que foi, durante mais de três séculos, conhecido como Reino do Dahomé, também grafado Danxomey, o reino de dan, a cobra, elemento de transformação. A cobra é um signo de transmutação, sendo a imagem da dupla serpente a encarnação do segredo que une vida e morte, em diferentes culturas do conhecimento. Entre os povos originários da costa ocidental africana isso não é diferente, e é nas curvas sinuosas do movimento da cobra que muda de pele e dorme com os olhos abertos que produzimos essas fantasmagorias.

Quando falamos em fantasmagoria, invocamos formas de aparição de realidades ocultas, sob os riscos e os sustos que isso implica. Na figura da cobra que morde o próprio rabo, nosso interesse não é apenas o de mergulhar em uma herança a fim de irrigar a terra e fortalecer nossas raízes, mas de, a partir desse solo fértil que nos constitui, redesenhar caminhos que nos conectam a futuros de abundância e plenitude, sob as sombras de uma frondosa copa. 

As atividades de nossa programação propõem questões relativas à produção de conhecimento afrodiaspórica e ou contracolonial, tematizando a institucionalização das artes e tecnologias, a partir de perspectivas críticas aos processos de arquivamento, processamento e transmissão de conhecimento. Para fazer sibilar os ecos de uma presença que não é passada, mas presente, e que ressoa nesse chão onde ora pisamos, convidamos, com amor, para essa gira. 

A ocupação está sendo sonhada através de múltiplas camadas, camadas finas de significados, contextos, temporalidades, e que constituem um corpo. Na fantasmática desse corpo, há órgãos sentidos em suas ausências. Como essas ausências se tornam presentes? Como acordar os sentidos para dimensões adormecidas de nossos corpos – territórios, fazendo aparecer aspectos latentes, mas não manifestos em nossas existências? Como tornar visível, ou melhor, sensível, aquilo que está oculto pela falta de cuidado, apagado pela colonialidade? 

Como parte de um programa de pesquisa, ensino e extensão que busca fortalecer uma rede de trocas interculturais na diáspora, lançamos a nossa flecha. Uma flecha que chega ao outro lado do tempo e do espaço como uma ponte, por onde continuamos nossas travessias. Um arco no céu que conecta tesouros por desvendar. Certamente há muito por fazer. Mãos à obra!